A Lembrança Eterna do Esquecimento

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FICÇÃO ROMÂNTICA

Manhã de Novembro. Golfadas de um vento frio e úmido congelam aquela pequena cidade no interior montanhoso dos Balkans. Xênia, a professora de Literatura, anda pelo pátio da escola agarrada a um adolescente pelo braço. Ele se chama Markus, aluno da sala B. Ela procura Casmir, da sala A.

Há muitos jovens aglomerados sob o ginásio, onde se protegem do frio e se aquecem com o chocolate quente da cantina.

Uma rajada de vento mais forte arrebata das mãos da moça uma folha de papel.. Xênia larga Markus e, entre adolescentes que tagarelam amenidades em voz alta, a professora corre atrás da folha, que voa em direção à chuva que começa a precipitar em grossas gotas gélidas. As mãos alvas e fortes de um rapaz, agilmente, sequestram a folha em fuga.

_ Casmir! Que coincidência! – surpreende-se Xênia – era você mesmo quem eu procurava para entregar essa folha…

_ O vento foi mais rápido que a senhora… – brinca Casmir – é para mim?

_ Sim! – confirma Xênia.

Ato contínuo, Xênia vira-se para Markus, que a ladeia, e lhe diz, olhando para Casmir:

_ Vocês não se conhecem?

Os jovens se olham. Já tinham se visto antes na escola, nas imediações dela, talvez, ou em algum outro lugar da pequena cidade, certamente, mas nunca tinham se falado. Eles se estendem a mão. Xênia expira ainda cansada da corrida. Está no sexto mês de gravidez. Agora, ela lhes sorri em um estranho ar de alívio.

_ Vocês precisam se conhecer! – fala a professora categoricamente para a surpresa dos rapazes – Vocês precisam ser amigos!! – arremata ela em um tom de quase súplica.

_ Sim… Mas, por que nos diz? – indaga Markus.

_ Passei um trabalho de redação a semana passada para suas classes, e vocês escreveram redações que narram parte de um mesmo acontecimento… – explica Xênia – Pareceu que redigiram algo de comum no futuro de ambos, não sei… Que estranho!

Os jovens se entreolham. Agora, Xênia entrega para Markus o papel  com a redação de Casmir que já está com a de Markus, aquele papel que o vento arrebatou de Xênia e ele o pegou antes de cair na chuva.

_ Leiam! – pede ela, ainda estranhamente ofegante – depois, conversem!

Os adolescentes intrigados seguram os papéis. A fronte da moça poreja gotículas de uma esquisita sudorese.

_ A senhora está bem? – pergunta Casmir, sob os olhares preocupados de Markus.

_ Sim… Não sei… – Xênia parece confusa, enquanto responde pestanejando nervosamente – acho que minha pressão deve estar baixa…

Assim dizendo, Xênia se despediu com um breve sorriso, e deles se afastou rapidamente na direção das escadarias que conduzem à parte de cima da escola, onde ficam as salas de aula.

Foi a última vez que Markus e Casmir viram a professora Xênia.

Na quarta-feira da semana seguinte, uma professora substituta veio dar aula em seu lugar e, no próximo ano, ela passou a ocupar definitivamente as aulas de Literatura.

Nunca mais Xênia reapareceu ou do que lhe sucedeu souberam os alunos.

Os anos passaram e ratificaram o que ela pedira: Markus e Casmir tornaram-se amigos e, no futuro, ouviram ecoar do passado a voz de Xênia lhes profetizando um destino comum que eles mesmos predisseram em suas juvenis redações e que, então, mostrar-se-ia para eles sob a forma da frustração amorosa que ambos viveriam e em razão da qual se afastariam.

A passagem do Grande Circo Russo pela cidade; a paixão de Markus por uma artista e sua batalha interna para compreender a homossexualidade; o desaparecimento do amigo Casmir; o passado, que coloca Markus na encruzilhada da esquizofrenia com a paranormalidade; o surgimento de Aleks e os eventos que sucedem no Nocturns,  seu pequeno food truck que só funciona de noite, nos fundos de um desolado bosque…

Todas as peças compõem o aparente confuso mosaico da aventura truncada dos dois rapazes e seus sonhos amorosos, cujo pano de fundo é a inflexibilidade do destino e sua força arrebatadora, capaz de romper, feito um terremoto, qualquer resistência à sua vontade soberana.

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