Ficção Científica sobre a alma humana
FICÇÃO CIENTÍFICA. Steponas retorna da Lituânia em companhia de outros dois cientistas quânticos, Ignas e Agné. Eles foram seus alunos. São pessoas de sua mais alta confiança.
Depois de uns meses de experiências eufóricas, eles não se sentem mais lisonjeados pela descoberta daquilo que reputam, sem dúvida, o mais excêntrico acidente da história. Estão abatidos…
O peso da responsabilidade do que sabem recaiu sobre eles feito uma maciça bigorna moral.
O sigilo que suas pesquisas exigiu acabou por lhes consumir todas as economias, mas não exauriu o tormentoso dilema de compartilhar ou não o que encontraram.
No avião, vieram calados. Cada qual imerso nos próprios tormentos de uma vida que se transformou em um pesadelo. Sentem que serão mortos logo. Mas, não receiam pela vida; apenas, não querem enlouquecer, nem que o “segredo da pedra negra” seja descoberto!
Agora, quando pousam em Guarulhos, chove para Steponas, está um dia ensolarado para Ignas e nublano para Agné. Eles estão tendo suas mentes estranguladas por forças quânticas desconhecidas.
Feitos três náufragos à deriva em vagalhões oceânicos do tempo, Steponas, Ignas e Agné precisam se dar as mãos para se manterem vivos na superfície da lucidez.
Bizarramente, devem sincronizar constantemente o que estão vendo, fazendo anotações semanais em suas agendas e, ao se encontrarem, lerem os registros um para o outro, de modo que possam se “reunir” em uma mesma dimensão, eliminando réplicas suas que se multiplicam arbitrariamente nas dobras do tempo!
Eles perceberam essas distorções, por acaso, certa vez, quando Agné encontrou quatro Steponas em um mesmo dia, em lugares diferentes, onde jamais ele poderia estar, sem que um Steponas fosse coerente com o que outro fazia ou dizia, vivendo cada qual uma dimensão paralelamente visível para Agné. Quando Steponas e Agné foram capazes de lembrar de fatos comuns daquele dia, a coerência fez os três Steponas “falsos” sumirem e, provavelmente, outras três Agnés em algum lugar também!!!
O trio de cientistas tem conseguido corrigir esse absurdo, justamente, pelo cruzamento de informações. Só assim, pela coerência, podem eles ter certeza de que estão “juntos” de fato, de modo que, ao fim de uma rotação da Terra, não duvidem de que estão “no mesmo tempo e no mesmo lugar”!
Contudo, com o passar dos dias… Tudo está a piorar!
Aumentam as forças de distorção do espaço e de desorientação no tempo, que parecem girar, girar, girar centripetamente, contorcer-se cada vez mais e mais fortemente, com a violência dum ciclone tropical, tornando cada vez mais indistinguível a realidade da virtualidade, como se Steponas, Ignas e Agné estivessem sendo “expulsos” do mundo por uma porta no Universo que os suga.
De fato, eles se questionam se estão realmente no mesmo mundo em que viviam antes das experiências passadas no Leste Europeu!
Então agora, já por esses dias que correm, para os três se manterem coerentemente concordantes com “onde estão” e “a que horas”; para que possam ter a certeza de que continuam “pessoas únicas”, de que estão mantendo a própria “individualidade”, de que eles “são eles mesmos”, os cientistas estão precisando anotar fatos diários, a cada doze horas!
Eles preveem que, em breve, em algum momento, terão de andar com suas agendas, anotando os fatos de hora em hora; depois, de minuto em minuto, os mais comezinhos acontecimentos, seja uma idosa mulher que abre o seu guarda-chuvas cor-de- rosa; um veículo cinza gelo que passa devagar na rua estreita; o caucasiano guarda de trânsito de uniforme azul claro que sopra um estridente apito preto!
Contudo, a lógica indica que para evitarem a “dessegmentação” – isto é, a falência da concatenação lógica entre o passado, o presente e o futuro e, respectivamente, o que é uma lembrança, uma experiência e uma expectativa – eles serão obrigados a registrar por escrito os fatos que acontecem de segundo em segundo; depois, de microssegundo em microsegundo até o nanossegundo! Impossível… Morrerão insandecidos!
Que tipo de destruição os aguarda em breve? Serão esmagados nas mãos quânticas do tempo e do espaço.
A meio desses paradoxos, surgem personagens de cuja existência real eles não estão certos… Um escritor frustrado que vai se suicidar; um piloto de avião que se acidentará; uma jovem que morrerá de tristeza…
Apesar de seus próprios problemas, eles poderão ajudar aquelas pessoas?