O Julgamento de Jesus Pilatos lava as mãos

“Eu lavo as minhas mãos”

O Julgamento de Jesus Pilatos lava as mãos
“Eu lavo as minhs mãos do sangue desse inocente”- Christ before Pilate, by Tintoretto, 1566.

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Narrado por Mateus, o gesto de lavar as mãos notabilizou o juiz romano Pôncio Pilatos como um ato de omissão, pois teria ele prevaricado de seu dever, absolver quem ele entendia ser inocente. Todavia, o gesto de lavar as mãos não era nem romano, nem foi inventado por Pilatos, tampouco significa omissão, pelo contrário, o gesto é de absolvição!

Lavar as mãos era um ato formal de um Juiz do Sinédrio quando, ao fim de um julgamento em que sua opinião de inocentar um acusado era vencida pela opinião da maioria, diante de Deus e de seus colegas, o juiz que inocentava lavava as mãos para “declarar-se limpo do sangue de um inocente”, ao que os juízes que condenavam deveriam replicar, em voz alta, “que o seu sangue caia sobre nós e a nossa família!”.

Realmente, é um mistério como Pilatos sabia dessa prática usada pelos Juízes judes em reunião de julgamento no Sinédrio. Era impossível que ele tivesse conhecimento dessa prática, visto que não tinha contato, quer com os judeus, quer com suas tradições. Pilatos fora um soldado romano e, por puro acaso, terminou assumindo a “prefeitura” da Palestina.

Então, o ato de lavar as mãos se constitui em um mistério tão grave que existem pesquisadores que consideram fictícia essa ocorrência, como a própria existência de um Pilatos julgando o Cristo, tamanha “ambiguidade” em torno da figura do Juiz romano.

Contudo, há provas de que Pilatos existiu e é voz corrente de historiadores e escritos da época que ele, de fato, julgou um homem chamado Jesus, a pedido das autoridades de Jerusalém.

Uma interpretação pessoal do ato que faço, leva-me a crer que Pilatos já tinha firmado o entendimento de que não havia ato ilícito praticado por Jesus de interesse romano, segundo a leitura dos Evangelistas.

O próprio Jesus não confessou. Quando Pilatos perguntou se Cristo se dizia “rei”, os Evangelistas narram que Jesus disse: Tu o dizes, o que significaria que Jesus não afirmara uma realeza da Palestina, diante de César, ali representada por Pilatos, o que poderia ser interpretado como um ato de rebeldia. Pelo contário, descrevem os Evangelistas que o Cristo teria, de certa forma, ironizado a sua própria condição, no sentido de que, se fosse “rei”, naquela concepção imaginada por Pilatos, Ele não estaria ali preso, humilhado, maltratado, sem que seus “Ministros” interviessem a seu favor!

Por isso, ao que parece, Pilatos tinha mesmo conhecimento de como as autoridades do Sinédrio julgavam e, considerando o “conflito” de competência, já que Pilatos dizia para que as próprias autoridades judias “julgassem o Cristo”, ao mesmo tempo em que essas insistiam que não, que o caso dele era de infração às leis romanas, então, creio que Pilatos se posiciou como um “membro” do Tribunal Judeu que, por sua vontade, tinha o acusado por “inocente”, razão pela qual “lavava as suas mãos para limpá-las do sangue de um inocente”. Dessa maneira, Pilatos se posicionou não como um Juiz romano que julgava individualmente, mas como Juiz de um painel, do qual as autoridades judias faziam parte e formaram a maioria para a condenação do Cristo.

O ato de lavar as mãos, como dito, é, inegavelmente, da tradição do Judaísmo, não de romanos. Ato de “limpeza de impureza”.

Mas, é relevante deixar a informação de que, senão todos, a grande maioria dos doutrinadores cristãos consideram inverídica a ocorrência de “lavar as mãos” descrita por Mateus…

E, ainda, não são poucos os historiadores sérios que consideram Pôncio Pilatos um simples e rápido vulto da História.

Quem saberá ao certo?

Nenhum de nós estava lá, na verdade…

O homem contemporâneo e sua ciência nasceram tarde demais para saber muito do que aconteceu antes de nós.

Pilatos lava suas mãos no julgamento de Jesus Cristo
James Tissot (French, 1836-1902). Pilate Washes His Hands (Pilate se lave les mains), 1886-1894. Opaque watercolor over graphite on gray wove paper, Image: 6 1/4 x 5 1/8 in. (15.9 x 13 cm). Brooklyn Museum, Purchased by public subscription, 00.159.271 (Photo: Brooklyn Museum
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