Jesus e o Cego na Estrada de Jericó

O cego na estrada de Jericó

Jesus e o Cego na Estrada de Jericó
* crédito da imagem

Qual a importância de um evento passado, tão antigo, ser lendário ou verdadeiro? O que mudará, em nossas vidas, saber até que ponto foi real, ou criativo, o julgamento de Cristo por Pilatos, em todos os estranhos detalhes narrados pelos Evangelistas?

Que objeto de sua existência deixou o Cristo? Que documento foi produzido por Ele?

Nada obstante tanto se tenha escrito sobre o Cristo, é certo que Ele mesmo nada deixou escrito, jamais escreveu qualquer coisa, senão, no pó do chão, os grandes pecados daqueles que julgaram a prostituição de Maria Madalena. Ainda assim, o vento se encarregou de logo apagar o que o Mestre, com o dedo, escreveu no chão de terra seca.

E por mais bem retratadas que sejam as passagens do Cristo narradas pelos Evangelistas, elas ainda são dúbias… Aparentemente, o Cristo usava da ambiguidade como uma forma de liberdade de intepretação.

Realmente, se Deus não fosse uma hipótese, a fé perderia o sentido, já que o valor dela é, justamente, acreditar.

De igual modo, o Cristo usou de parábolas e muitas passagens sobre Ele e suas palavras seguem o exemplo da própria relação do homem com o seu pai: Uma hipótese que comporta infinitas intepretações, justamente, por sua dubiedade e ambiguidade.

Aqui, lembramos a passagem do “Cego de Jericó”.

Diz o Evangelista Marcos que Bartimeu, filho de Timeu, estava sentado à entrada de Jericó quando, da passagem por ali do Cristo, começou a gritar por Ele. Havendo o Cristo se aproximado e indagado o que queria, pediu a cura da cegueira. Cristo o atendeu.

Ora, diz João que, havendo os discípulos questionado ao “Rabbi” quem pecou, se o cego ou se os seus pais, dado a ter ele se encontrado naquela situação desde o nascimento, Cristo respondeu que ninguém pecou, e que a causa de sua cegueira era para que nele, no cego, se manifestasse a vontade de Deus.

Essa passagem, a meu ver, lança luz definitiva na perspectiva da possibilidade da doutrina filosófica do Fatalismo como uma alternativa possível a explicar certos eventos que surgem, aparentemente sem explicação ou razão, do se nascer (quando nos tornamos parte do mundo) à morte (quando deixamos o mundo), seja como autoanálise, seja como reflexão sobre as vidas de pessoas que conhecemos.

Consequentemente, não existem as “coincidências”.

Fora do plano ético, onde, realmente, há certa liberdade de escolha, cuja medida jamais saberemos também, no plano das causalidades ficamos mesmo refém do destino.

Sendo assim, não poderíamos jamais entender que Pôncio Pilatos, na condição de Juiz que foi o responsável direto pelo cumprimento da “Profecia de morte do Cristo”, estivesse ali, na Torre de Antônia, a julgar as acusações contra o Cristo, apenas como um mero figurante.

Definitivamente, Pilatos representou a lei, o direito, a justiça, todos os valores humanos, em confronto com todos os valores do Cristo. Diante da força dos que acusavam o Cristo, Pilatos não se omitiu.

Ele, realmente, condenou o Cristo e todos os seus valores? Não.

Ele “lavou as mãos” – um dos mais misteriosos e controversos ato da História evangélica do Cristo – tornando-se um “juiz do Sinédrio” com voto vencido no julgamento do Cristo…

Mas, aqui temos uma intepretação apenas. Todavia, não parece crível se imaginar que tenha sido o julgamento do Cristo um ato de absoluta indiferença para o juiz romano, e que tantos detalhes narrados nos Evangelhos sejam “acréscimos inverídicos” que, simplesmente, “romantizaram” a morte de Jesus e, para dois milênios mais tarde, “justificaram” um antisemitismo.

A propósito, dentro daquela concepção “fatalista” a que aludida acima, nem as então autoridades de Jerusalém, nem Judas Iscariotes, nem Pedro, nem Pilatos, podem ser levados à conta de “responsável” pela morte do Cristo que, desde muito tempo, era por Ele mesmo profetizada!

A tomar-se por verdadeiro o Dogmatismo Cristão, a morte do Cristo era um fato consumado antes mesmo de se consumar.

* A cura do cego Bartimeu por Jesus na Estrada de Jericó

Nicolas Poussin 1593/94 – 1665
The Healing of the Blind of Jericho
Musée du Louvre, Paris

Livro para quem pensa com o lado esquerdo do cérebro
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